Amazonizar: como estamos colocando a Amazônia no centro?

Publicado em
29 de setembro de 2023
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Já contamos por aqui o motivo pelo qual escolhemos trabalhar com o foco no combate às Emergências Climáticas.

Não foram escolhas fáceis. Estrategizar exige encarar as questões mais complexas, apurar o olhar e exercitar a escuta. Estava compreendido, logo no início, que era preciso encontrar um novo centro de equilíbrio para pensar as ideias e encontrar as saídas para os problemas antigos que nos trouxeram até aqui. 

Os indícios e as dicas para buscarmos este novo centro estavam dados. E chegamos ao Amazonizar. 

Mas quando falamos sobre isso, muita gente não entende. Somos vários, de lugares diferentes, mas não somos uma organização nascida na Amazônia.
O que nós estamos querendo dizer? Nós podemos dizer? 

Para fazer uma checagem sobre o conceito foi divertido perguntar para a inteligência artificial: o que é amazonizar?

A resposta, por enquanto, reflete o que as pessoas não sabem sobre isso: “Amazonizar pode referir-se à estratégia de negócios que busca emular ou imitar o modelo de negócios da empresa Amazon.”

Isso diz muito sobre a necessidade de mudar as referências e os padrões. Entendemos que precisamos viver e promover este conceito já que ele pode trazer as soluções com base na sabedoria ancestral, em uma nova forma de se relacionar com o mundo em que vivemos. 

A inteligência da Floresta precisa guiar nossas escolhas e decisões. Não importa onde estejamos. Decisões políticas, sociais e econômicas. De saúde e de relacionamentos. 

Em seu livro Banzeiro Òkòtó (p.50), ao explicar “amazonizar”, Eliane Brum diz: “O que eu quero dizer é que se reflorestar, ou se amazonizar, é um movimento radical.” 

A ideia de radicalizar pode ser ampliada ao considerar que é necessária uma mudança profunda de perspectiva, de estrutura de pensamento. Isso traz à tona a necessidade de discutir tudo: da produção, passando pela estrutura social, consumo e outros pilares de funcionamento da sociedade. E a partir disso, encurtar a distância da Amazônia com o resto do Brasil/do mundo – colocar-se no lugar de que muitas respostas e ações para o combate ao colapso climático estão na Amazônia, com as pessoas e a natureza (humanos e não humanos, também como diz Eliane Brum). No caso da superemergência climática, a Amazônia é, efetivamente, o centro do mundo.

Amazonizar é estratégico para o nosso ecossistema

Trazer a Amazônia para o centro em um contexto tão desafiador como esse não significa lidar apenas com as limitações, mas é pensar em abundância, soluções criativas e integradas com o que está disponível ao nosso alcance. Todos podem se beneficiar com esse processo, porque ele é acima de tudo estratégico. 

Estamos amazonizando ao ampliar nossas referências de imagens, produções de conhecimento, estreitando relacionamentos com organizações e ativistas que estão no território e trabalhando lado a lado com profissionais amazônidas. Como resumiu bem o diretor Caio Coimbra: “se for excludente, não é amazonizar”. Aqui citamos três pontos fundamentais: 

1- Considerar o local de fala e de ação de forma inclusiva e plural

A Rede Amazônia Viva foi um projeto desenvolvido em 2022 junto com uma grande empresa da área de cosméticos. A intenção era formar uma rede de ativistas, cientistas e pessoas com diferentes graus de conhecimento e participação nas questões relacionadas aos territórios para ativação de causas locais. Um de nossos principais desafios foi a criação de um perfil no Twitter que pudesse traduzir para o público da rede questões mais técnicas, como os impactos do desmatamento da floresta na vida cotidiana, além de participar de conversas que estavam quentes no momento, como as eleições presidenciais. 

Para amazonizar nossa estratégia de comunicação nesta rede, nós trouxemos profissionais da região para elaborar o plano estratégico, produzir os conteúdos e realizar o monitoramento dos resultados. O que resultou em um projeto colaborativo, com muitas visões e que estavam representadas na forma de se referir ao público-chave: nós somos a Amazônia Viva, que demonstra a pluralidade que desejamos: um território com mais de 25 milhões de habitantes composto por muitas línguas, sotaques e jeitos de viver. 

2- Novas soluções, novos olhares

Por ser uma lente para a nossa atuação, também é possível amazonizar em projetos que não estão necessariamente alocados na Amazônia. Colocar os atores locais no centro também é amazonizar. O Nordeste Potência é um plano que promove o debate público sobre a recuperação econômica pós-pandemia e a energia verde no Nordeste brasileiro, sob bases justas e inclusivas. Nesse âmbito foi realizada a Caravana Nordeste Potência, uma websérie que percorreu o rio São Francisco, mostrando o quanto ele é importante para a região e pode ser um vetor de transformação da economia. 

A ótica que aplicamos conecta os recursos naturais como vetores de um desenvolvimento justo,  com a relação que as pessoas estabelecem com esses lugares, e a defesa de uma economia verde… Tudo isso são aprendizados que a Amazônia nos proporciona e que podem ser aplicados a outras regiões do Brasil. 

3- Ouvir e incorporar conhecimentos dos territórios

É cada vez mais comum defender o protagonismo dos povos e comunidades tradicionais, mas implantar uma escuta verdadeiramente ativa é, sem dúvidas, nossa principal barreira para amazonizar. Desenvolver soluções estratégicas e cocriar projetos exige uma quebra do paternalismo para reconhecer que as pessoas que mantêm a Amazônia de pé têm valor. 

O quão dispostos estamos, de fato, a ouvir o que povos e comunidades tradicionais têm a dizer? Estamos mesmo levando em conta seus ritmos, suas formas de se comunicar e suas prioridades? 

Essa conversa, aqui na Apply, é um ponto de partida. Queremos fazer a nossa parte para que os povos da região sejam os protagonistas e sabemos que não é um caminho simples. Ainda temos muito para construir, mas aprender com a Amazônia é enxergar novas soluções e encorajamos os nossos parceiros a realizar o mesmo movimento.

E para você? O que significa amazonizar e como é possível fazer isso no cotidiano de trabalho? 

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