Emergência Climática: do discurso à ação

Publicado em
16 de março de 2022
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O que você precisa saber sobre o novo relatório do IPCC para promover a transformação necessária

Divulgado no final de fevereiro, o relatório do Grupo de Trabalho 2 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apresentou um cenário alarmante sobre como será o futuro sem as ações urgentes para conter o aquecimento global. De forma geral, o documento demonstra que os impactos estão ocorrendo em velocidade superior às projeções anteriores. 

A partir da análise do documento, a ApplyBrasil sugere algumas prioridades para criar estratégias de ação no cenário brasileiro:

Adaptação das cidades

Contexto: Ao mesmo tempo em que são uma das causas mais relevantes para o aquecimento global, as grandes aglomerações urbanas sofrerão as consequências de forma mais rápida e intensa. Metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro funcionam como ilhas de calor e registrarão aumento de temperatura ainda maior que a média. Situações extremas – como escassez de água e ocorrência de tempestades devastadoras – se tornarão cada vez mais frequentes. 

Desafios: 

  • Intensificar o planejamento das cidades com base em dados: promover redes de cientistas e investir em soluções criadas a partir da perspectiva dos públicos afetados diretamente; 
  • Comunicar a partir da ciência: união entre a ciência, imprensa e organizações da sociedade civil para criar um debate popular que pressione a criação de políticas públicas;
  • Regionalizar táticas para criar grupos fortes que possam representar maior resistência frente aos desmanches da política federal. 

Oportunidades: 

  • Engajar a população na transformação estrutural das grandes cidades brasileiras por meio da valorização da qualidade de vida; 
  • Investimento em coletivos periféricos que possam debater a ocupação das áreas de risco e pressionar pelo enfrentamento do  déficit de infraestrutura;
  • Campanhas que promovam a idealização da vida pós pandemia com mais interação com a cidade e foco na qualidade do ar e na mobilidade.

Arranjos produtivos

Contexto: Há uma relação estreita e inegável entre as questões climáticas e a desigualdade social. Melhorar a distribuição de renda no Brasil é um caminho fundamental para aliviar a pressão sobre o meio ambiente, pois contribui diretamente para combater o desmatamento, ordenar a ocupação territorial, reduzir a poluição e recuperar áreas degradadas. 

Desafios: 

  • Pautar o racismo climático e a justiça ambiental e ampliar o investimento em projetos que deem visibilidade para novas vozes da comunidade;
  • Traduzir os conceitos de arranjos produtivos locais: temas como “alimentação saudável” fazem mais sentido para quem está vivendo nos centros urbanos. As pessoas não entendem o conceito de sociobiodiversidade. 

Oportunidades: 

  • Campanhas de comunicação e engajamento que promovam a cultura e a culinária local. 
  • Criar relações diretas entre a participação das pessoas com os temas e a melhoria de vida de cada uma delas. Responder a pergunta: o que elas ganham com isso?

Combate ao desmatamento

Contexto: A discussão “desmatamento ilegal” ou “legal” não faz mais sentido. É preciso agir imediatamente no combate ao desmatamento, de todo e qualquer tipo. Trata-se da maior fonte de emissões de carbono pelo Brasil. O relatório do IPCC demonstra que a temperatura média do planeta já aumentou 1,1ºC em comparação ao patamar pré-industrial e alerta que um aumento de 1,5ºC levaria a uma forte ampliação dos danos irreversíveis à biodiversidade e à presença humana no planeta. Ou seja: a janela de oportunidade para reverter esse quadro está se fechando.

O desmatamento e queimadas na Amazônia poderão transformar a floresta úmida em regiões de savana, ocasionando uma drástica redução de chuvas, cerca de 40%. A redução da circulação dos chamados rios voadores, que levam umidade e chuvas da Amazônia para a região central e sudeste do país, vai intensificar a crise hídrica.

Desafios: 

  • Reforçar os mecanismos legais e jurídicos que combatem a corrupção e a ilegalidade. 
  • Aprofundar o entendimento sobre alternativas econômicas sustentáveis para as comunidades que vivem em regiões fortemente pressionadas, como o Cerrado e a Amazônia.
  • Valorização de um novo modelo de cidades integradas à natureza.

Oportunidades: 

  • Aliar a tecnologia a campanhas de comunicação que promovam transparência na gestão e uso da terra e na cadeia produtiva de setores cruciais como a pecuária e a soja.
  • Valorização do monitoramento público da Amazônia e de todos os biomas para criar indicadores que facilitem o engajamento de diferentes segmentos sociais.
  • Campanhas de “awareness” que responsabilizam os setores financeiros e industriais a se comprometerem fortemente com o fim do desmatamento. 

Apoio à pesquisa

Contexto: O Brasil enfrenta um processo de desvalorização dos dados científicos. Muitos projetos de produção de informações e indicadores não são suficientemente respaldados com financiamentos e apoio institucional. Quando se trata de questões ambientais e climáticas, a confiabilidade e a atualidade dos dados são essenciais para a construção de diagnósticos como os produzidos pelo IPCC. 

Desafios: 

  • Pesquisas cientificamente respaldadas sobre temas relacionados ao clima e ao ambiente e orientadas por segmentos e valores, como religião, agrupamentos conservadores ou progressistas, que trazem mais percepções de como agir.

Oportunidades: 

  • Traduzir os dados do IPCC e de outros estudos complexos por meio de abordagens mais próximas ao cotidiano das pessoas, como humor e sátira, vídeos, documentários, fotografia e arte. 
  • Trabalhar os dados por meio de exemplos mais humanizados. Hoje são mais de 29 milhões de pessoas morando nos estados Amazônicos – essas pessoas precisam ser vistas e ter voz.

Sobre o IPCC

Criado em 1988 pela Organização das Nações Unidas (ONU), o IPCC reúne centenas de cientistas, de todas as partes do planeta, que analisam dados confiáveis para avaliar uma série de fenômenos, a exemplo de ondas de calor, aumento do nível do mar, extinção de espécies e intensificação de eventos extremos – e as consequências de tudo isso para a humanidade. Estima-se que 3,6 bilhões de pessoas, 45% da população da Terra, vivam em contextos altamente vulneráveis às mudanças climáticas.

Ao trazer um diagnóstico amplo e cientificamente embasado, o relatório é uma fonte importante para que as organizações e os profissionais que atuam na área socioambiental definam estratégias de ação – tanto no esforço de reduzir o aquecimento global quanto no enfrentamento das mudanças climáticas.

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