Literatura: ponte para acessar novas formas de existir

Publicado em
2 de julho de 2024
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Apostamos no potencial da criatividade associada às múltiplas perspectivas de sentir e viver o mundo para transformar nosso planeta num lugar mais justo e tolerante às diversidades. Por isso, valorizamos nossa formação: somos uma equipe de diferentes regiões do país e trajetórias pessoais e profissionais. Mas não só: estamos sempre atentos e atentas para conhecer outras formas de dar sentido ao mundo. Para além, muito além das nossas.

Acreditamos que o audiovisual e a literatura são pontes para que estejamos frequentemente acessando essas possibilidades de existir e, assim, nos banhando de repertórios de vidas para elaborar criativamente e coletivamente estratégias para combater os desafios climáticos, políticos, sociais. Para nós, as saídas das crises são coletivas e criativas. 🤗

Tendo como princípio a terra, ponto de partida definitivo para todas as discussões (como alimentação, ocupação, preservação, cultura) e historicamente espaço de disputas e guerras, selecionamos trechos de obras literárias que podem inspirar a repensar a forma como encaramos a relação que temos com ela – e conhecer como outros povos interagem e dão sentido a ela.

Vai dar um nó na cabeça? Vai! Mas esse é o potencial das histórias: nunca sair o mesmo, nunca sair a mesma delas.

Conta pra gente: você já leu alguma? Qual outra obra você acrescentaria na seleção?


A terra dá, a terra quer

“O desenvolvimento e o colonialismo chegaram subjugando, atacando, destruindo. Quando se introduz o desenvolvimento em espaços onde o povo vive do envolvimento, quando modos de vida são atacados, quando o envolvimento é atrofiado, inviabilizado e enfraquecido, vai haver reação.” (p.97)

A terra dá, a terra quer
Autor: Antônio Bispo dos Santos (Mestre Nego Bispo)
Publicação: Ubu Editora/ PISEAGRAMA
Ano: 2023


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“Uma das coisas que digo para os mais velhos e para vocês, Juruá, em momentos de encontro, é que seria importante fazer antropologia na cultura de vocês. Tirar o Guarani da aldeia para ele ficar na casa de vocês e observar vocês todos os dias. Sentir, refletir, tentar entender, fazer relatórios e, finalmente, produzir uma tese de capa dura, bem bonita, com muitas páginas, fotografias, gráficos e referências a outros estudos, para concluir e dizer aos Juruá para se tornarem selvagens, para que se tornem pessoas não civilizadas – pois todas as coisas ruins que estão acontecendo no planeta Terra vêm de pessoas civilizadas, pessoas que não são, teoricamente, selvagens. (…) Será que, se eu fizesse antropologia, eu conseguiria explicar para o meu povo por que o Juruá faz isso? Mas, enfim, não podemos perder a esperança. Temos que lutar – estamos lutando há quinhentos anos.” (p.20-21) Tornar-se Selvagem, Jerá Guarani

“Hoje fui colocada no lugar de artista, mas a única coisa que eu realmente sei fazer é lutar pelo meu território. Nós somos pessoas que sonham no território, e o território sonha junto com a gente. Se ele se sente ameaçado, se se sente agredido, ele vai falar conosco, e todos da aldeia vão ter o mesmo sonho. Como abelhas em uma colmeia. Se acontecer alguma coisa com um de nós, todos estarão sintonizados. (…) O lugar do sonho nos conecta.” (p.186) O território sonha, Glicéria Tupinambá

Terra: antologia afro-indígena
Autor: Vários
Publicação: Ubu Editora/ PISEAGRAMA
Ano: 2023


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“Eu fui com o Davi Kopenawa a Atenas. E o Consulado do Brasil em Atenas pôs uma pessoa para nos acompanhar em visita à Acrópole, ao Arco de Adriano, ao Templo de Zeus. Fomos visitar esses lugares. Quando chegamos lá perto do mar Egeu, numa ruína, com aquelas colunas quebradas, com pedra caída para todo lado, restos de antigos templos tombados no chão e um mar lindo à nossa vista, em um dia de luz bonita e sol, paramos ali e a nossa acompanhante do consulado brasileiro ficou junto com a gente contemplando a paisagem. Então ela perguntou para mim e para o Davi: ‘O que acharam deste lugar? Vocês gostaram do passeio?’. Eu fiquei num vazio, assim, pensando no que ia responder. O Davi me antecipou um pouquinho e disse: ‘Eu gostei de vir aqui, porque agora eu sei de onde saíram os garimpeiros que vão destruir a minha floresta, fuçar a minha floresta como se ela fosse pó. O pensamento deles está aqui. Eles fizeram isso e foram fazer o mesmo lá onde eu vivo. Eles reviram a terra, eles quebram tudo.” (p.15) O silêncio do mundo, Ailton Krenak e Andreia Duarte

Caixa de Dramaturgias Indígenas
Autor: Vários. Organizado por Trudruá Dorrico e Luna Rosa Recaldes
Publicação: n-1 edições
Ano: 2023

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